sexta-feira, 22 de abril de 2016

Depois?

Depois o café esfria,
depois a prioridade muda,
depois o encanto se perde,
depois o cedo fica tarde,
depois a saudade passa,
depois a sua ausência não é mais sentida,
depois o que você queria, pode ser que não queira mais...


Ahh, depois tanta coisa muda...


Não deixe nada para depois,
porque na espera do depois,
você pode perder os melhores momentos,
as maiores experiências,
as maiores oportunidades,
e os melhores e maiores sentimentos.
          "Relacionamento não é só prazer, não é só festa, viagem, risada, diversão, sexo, brinde, beijo e cumplicidade. Relacionamento tem fases chatas, de vez em quando tem briga, discussão, rotina, implicâncias, ciúme, bate boca.
          A gente tem que lidar, conviver e amar uma pessoa que veio de outra família, outro mundo, tem outra criação, outros costumes, outros pensamentos, outro cheiro, outro jeito.
        Você tem que aceitar aquela pessoa como ela é, e isso dá muito trabalho. O amor é lindo sim, e ele é a maior recompensa para quem não tem medo de absolutamente nada. Amor é querer estar com a pessoa independente de qualquer coisa ou situação. Pelo simples fato de amar estar junto" 
       



quinta-feira, 21 de abril de 2016

“Não importa quantos imbecis queiram arrebentar a minha cara por nada, o quanto a maconha esteja cara, o quão idiota seja o meu pai e todos os outros adultos que fingem gostar da vida que levam. Não importa a ressaca no dia seguinte, a minha cabeça pesada, a dor no fundo dos olhos, meu estômago querendo me matar, o joelho ralado no chão da pista de skate. Nada importa. Tem sempre uma festa no outro dia, uma ponta pra tu queimar, uma guria pra pegar. Tenho meus melhores amigos e a juventude inteira pela frente. Live fast, die young.” - Thomaz Rohr. 

Capitulo 155 - Cabeça cheia de merda

Quando me vi embaixo da cama e sem roupa, tive certeza de que tem coisas que só acontecem comigo. Senti meu coração bater na minha cabeça enquanto respirava a poeira do chão de madeira e tentava me esconder atrás das minhas roupas, que a Helo tinha chutado pra debaixo da cama. Nos primeiros minutos, eu tava surtando de medo do irmão dela entrar no quarto e me ver. Mal conseguia respirar por medo de me ouvirem. Mas depois de algum tempo, eu já tava até me acostumando com o som da voz dele vindo do corredor. Até a Helo parecia menos nervosa enquanto tentava enrolar o cara com qualquer história.

E logo o nervosismo foi dando lugar a uma sensação de relaxamento. Afinal, por pior que eu estivesse, eu tinha acabado de transar. E até que não tinha sido ruim pra uma guria virgem. Ela tinha um corpo bem bonito e parecia bem a fim. O problema da primeira vez é que a mina costuma ficar tensa, preocupada, com vergonha, sei lá, e não consegue curtir o momento. Apesar de eu estar longe de ser um príncipe encantado, a Helo pareceu estar bem decidida da escolha dela, e curtiu. Ou fingiu muito bem. Não vou entrar nesse detalhe. As pessoas tem essa mania de ficar procurando problema onde parece estar tudo bem. “Como assim tá tudo bem? Não é possível.” Não vou fazer isso.

Mas é claro que aquele Thom relaxado não existiu por muito tempo. Não depois de ter feito a quantidade de merda que fez, e ter caído na realidade de que ele e a Alícia não tem mais nada a ver. Fechei os olhos e fiquei tentando pensar em qualquer coisa, qualquer coisa que fizesse a cara da Alícia sair da minha cabeça. Faculdade, a treta da Raíssa com o Matt, o Fred comendo a Vicky, a festa do Fred, o que o Gab poderia estar fazendo, Beatles, os dentes tortos daquela guria bonita, o Ringo, um pedaço de pizza, qualquer coisa. Mas parecia que tudo que eu pensava tinha alguma relação com ela. A faculdade me lembrava que ela tava se mudando por causa do curso, a treta com a Raíssa me lembrava da treta com ela, o Fred comendo a Vicky me lembrava de nós dois juntos, a festa do Fred me lembrava do que eu tinha feito depois dela, toda e qualquer porra de música dos Beatles me lembrava ela, os dentes tortos da guria eram substituídos em segundos na minha cabeça pelos dentes pequenininhos dela, me lembrava dela brincando com o Ringo, os desenhos que ela fazia de mim com o Ringo… Até o caralho do pedaço de pizza se transformava numa cena nossa comendo depois de sairmos juntos de alguma festa de madrugada.

Caralho, como é difícil ter que lidar com a nossa própria cabeça.

E é isso. Olhei em volta. Agora somos só eu e minha cabeça. Não posso sair daqui, nem falar, nem fazer nada. Não tenho escolha além de ter que lidar comigo mesmo. O problema de ficar sozinho é que tu é obrigado a lidar consigo mesmo. E essa pode ser uma das coisas mais difíceis de se fazer.

A minha dificuldade de ficar sozinho com meus pensamentos só me indicava uma coisa, e bem claramente: as coisas não tavam nada bem. O que se passava na minha cabeça não condizia nem um pouco com a realidade, com o que eu tava fazendo. Eu queria enxergar o término como algo bom pra caralho, ou como algo sem importância. Tocar o puteiro, pegar todas as gurias da face da Terra, tirar a virgindade de uma novinha e sair contando vantagem, superar a Alícia do dia pra noite. E por algum tempo, eu consegui me convencer de que conseguiria fazer tudo isso - e rápido. É fácil se convencer de algo quando tua cabeça tá ocupada demais pra refletir sobre aquilo. Ali, sozinho, eu saquei que tava me entupindo de coisas pra fazer e pensar pra não ter que lidar com o que tava acontecendo de verdade: eu tava na bad por uma mina.

Sim, aquilo que eu evitei a todo custo quando eu comecei a ficar com a Alícia tava finalmente rolando. Ela sempre deixou claro que gostava de mim, desde o início. Hoje eu percebo que eu também sempre gostei dela, desde a primeira vez em que reparei naquelas pernas fininhas e no sorriso largo. Mas eu evitava. Evitava falar com ela, pegar ela, sair com ela e, acima de tudo, evitava gostar dela. E isso foi ficando cada vez mais forte em mim, cada vez que a minha vontade de ficar com ela aumentava. Na época, eu não sabia exatamente o porquê. Até ela me chamar de covarde. “Tu tem medo de gostar dos outros”, ela disse, logo depois de ter soltado um “seu covarde escroto”. Sinto que as pessoas precisam ser meio incisivas comigo pra eu prestar atenção.

Eu tinha medo de gostar dela, porque eu sabia que em algum momento eu teria que parar de gostar. Às vezes eu sinto como se sempre soubesse que uma hora ela iria embora.

Ela não tinha motivos pra ficar. Tão bonita, tão esperta, tão cheia de sonhos. O que eu mais amo na Alícia é o quanto ela se ama. O quanto ela é fiel às coisas que ela gosta: seja eu, seja a arte. Se naquela época ela sentia que o que a faria feliz era eu, ela aguentava todas as porradas pra ficar comigo. Me aguentava sendo um completo babaca covarde. E ela gostava tanto da gente que me convenceu a gostar também. Me fez pensar que, por mais que eu soubesse de toda a merda que tava por vir, eu deveria aproveitar enquanto as coisas iam bem. Foi o que eu fiz.

E se agora o que a faz feliz é morar em outro país, estudar e o caralho a quatro, é isso o que ela vai fazer. Pois é. Eu tinha certeza de que, em algum momento, ela encontraria algo do qual iria gostar mais do que de mim. E não digo isso pra terem pena de mim. É apenas um fato. Eu sabia que não era legal o suficiente pra segurá-la por tanto tempo. Ela se entedia fácil. Eu só espero que eu tenha a entretido enquanto durou.

Era bem isso que eu queria falar pra ela: espero que eu tenha te entretido.